terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Professora Adriana Lucio

* Qual é o seu desejo como professor de Língua materna?

A autonomia do saber escolar se faz sentir particularmente no ensino da escrita. A escola sistematiza este processo, distribui as dificuldades inerentes à escrita de acordo com uma seqüência lógica do ponto de vista do adulto, criando, com isso, uma língua artificial que, para a criança, falha enquanto meio de expressão. Em outras palavras, a escola e principalmente o professor de língua materna, em suas práticas, acaba impossibilitando a “aventura da comunicação”.

“O professor de língua materna tem que ensinar a língua, não a teoria gramatical”. Esta declaração de Evanildo Bechara, integrante da Academia Brasileira de Letras(ABL) e um dos criadores do novo vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), vem gerando repercussão entre os especialistas da Língua Portuguesa. Assim, o professor deve ensinar aos alunos com base na leitura e em práticas de redação. O estudante precisa dominar a expressão escrita da língua. A teorização gramatical não deve ficar como peça principal no ensino da língua materna. O erro era fazer com que a aula de Português se transformasse, exclusivamente, em ensino de gramática. Na verdade, é necessário que o professor de língua materna não se restrinja a teoria gramatical, mas aos fatos da língua. É lógico que quando alguém explica os fatos da língua, vai precisar de algum suporte teórico para poder complementar isso.

O docente deve ensinar o aluno a falar e escrever de acordo com a norma culta da língua. E isto deve ser feito por meio de leitura e interpretação de texto. As aulas de Português deveriam sofrer uma reforma curricular em nível nacional. É importante oferecer uma base muito grande para se aprender a língua materna, sempre a partir da própria escrita. Pois, ao final do ensino médio, prevê-se que o aluno compreenda e use um registro da língua portuguesa adequado às mais diversas situações de comunicação das quais participa como produtor e ouvinte ou como leitor.

A construção dessa competência pressupõe, pelo aluno, o uso de diferentes habilidades, como avaliar a situação de comunicação – quem são os interlocutores, o propósito do texto, seu conteúdo temático, o objetivo em mente, os efeitos que se pretende alcançar, o gênero de discurso em cena – selecionar a variedade de língua que se mostra eficaz à situação de comunicação, o estilo a ser empregado, e planificar o texto. Em outras palavras, o que está em jogo são os saberes ou os conhecimentos relativos aos modos de agir discursivamente em uma comunidade. Então, nós, professores de língua materna, temos uma grande responsabilidade e ao mesmo tempo um grande desejo: que nossos alunos não apenas leiam e escrevam, mas que interpretem o que lêem e o que escrevem, e que saibam dar sentido ao que escrevem.

É preciso subsidiar o aluno de informação para que possa construir um texto de qualidade com pertinência e relevância, sentindo assim, prazer no ler e no escrever!